Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA
Paulo Moreira Leite
O ponto mais grave da entrevista do empresário Tony Garcia a Joaquim de Carvalho, na TV 247, reside no aspecto criminal
3 de junho de 2023, 16:08 h Atualizado em 3 de junho de 2023, 16:29
Tony Garcia e Sergio Moro (Foto: Divulgação)
É um fato sabido, há pelo menos uma década, que a Lava Jato atravessou vários limites impostos pelas leis que garantem o Estado de Direito para encontrar provas contra adversários políticos — em particular Lula e o Partido dos Trabalhadores.
A novidade é que, na entrevista, Tony Garcia, empresário, ex-deputado estadual, personagem conhecido nas rodas sociais do Paraná, vai muito além. Num depoimento na primeira pessoa, descreve a criminalidade em grau máximo — quando as autoridades encarregadas de defender o bem comum e garantir o cumprimento das leis, passam a agir como uma máfia criminosa para atender interesses e recolher benefícios próprios.
Com o conhecimento de quem já passou anos mergulhado nesse universo, negociou delações e cumpriu acordos com promotores e juizes, Garcia fala de atos criminosos que vão muito além dos simples “desvios de conduta,” que vez por outra são cometidos aqui ou ali no cumprimento do dever. Não foi nada disso, explica o empresário, ao descrever seus interrogatórios.
“Quando eu respondia alguma coisa que não interessava para ele, ele desligava o gravador e chamava atenção dos advogados, que eu não tinha que falar assim, que eu tinha que falar que era propina. Ele botava na minha boca o que eu tinha que falar”, afirma Garcia na entrevista à TV 247, descrevendo a atuação de Moro.
Neste universo, os instrumentos destinados a garantir o cumprimento da lei — como a cela de uma prisão, a delação premiada ou uma denúncia judicial — não passam de instrumentos destinados a beneficiar acertos criminosos e acordos por baixo do pano.